Cara leitora, caro leitor você já fez um elogio hoje? Ou mesmo um agradecimento? O Brasil,
Santa Catarina, a Grande Florianópolis, principalmente por ter sido sempre uma região tão
acolhedora, mudou para pior. Sim, estamos desde 2012 discutindo resultados de eleições.
Naquele ano a de prefeito, não terminou no dia da apuração, vieram recursos e mais recursos,
anulações e tal. Eleição para o executivo federal de 2014 foi uma tragédia – no sentido de não
ter terminado, não estou falando de resultado de eleições – outra municipal e agora novamente
a de executivo e legislativo estadual e federal. Que bagunça. Que falta de percepção de ser
povo, ser um único povo com objetivos que precisam ser alcançados para a integração total
de nossa sociedade.
Vimos essa semana ser comemorada a possibilidade de até 2033 ser universalizado o acesso
a água encanada a ao esgoto tratado – estão de brincadeira? Em pleno século XXI e a maioria
de nós convive com esgoto correndo a céu aberto, contaminando agua potável e mares. E
ainda comemoramos que pode ser que até 2033 +- 90% do país esteja atendido? Se
pensarmos no contorno viário da Grande Florianópolis que o primeiro prazo para estar pronto
era em 2010, a esperança vai morrer de doença causada por coliformes fecais.
Perdemos nossa identidade como povo, como integrantes de um só país, um estado, ou
região. Hoje valorizamos o vivente que pensa igual a nós, que seja nosso espelho. Não há
mais a construção do diálogo, do entendimento e respeito com os pensamentos contrários,
apesar de não ser o meu. Existe duas máximas: “sou a maioria e vocês só merecem respirar”
e “ganhamos a eleição, vamos fazer o que quiser”, desculpa falar uma coisa que devia ser tão
clara, mas não funciona assim. Durante o período eleitoral pode até haver disputa de votos,
mas depois precisamos levar o país para o mínimo de civilidade e objetivos comuns a todos
os habitantes, tanto os que votaram quanto os que não votaram no eleito, ou voltaremos a
idade média, ao tempo descrito por Maquiavel em sua obra O Príncipe, e teremos que matar
até o filho de nossos adversários. Eleição são três, quatro meses, depois é construção de uma
sociedade aglutinadora que trate seus cidadãos visíveis e invisíveis com dignidade, com
respeito e igualdade não interessando origem e riqueza. Precisamos colocar logo o Brasil no
sec. XXI, com educação de qualidade, moradia, agua encanada, esgoto tratado, luz, emprego
a todos os seus habitantes. A internet existe, estamos discutindo a tecnologia 5G, mas não
conseguimos fazer uma ligação em trânsito porque não existe sinal suficiente. Então,
realmente precisamos ter um mínimo de objetivos comuns como sociedade, descrever ações
e fazer acontecer. Caso contrário em 2070 ainda estaremos comemorando o acesso via wi-fi
na internet de uma escola em qualquer canto do Brasil, enquanto os demais países mundiais
estarão fazendo ônibus espaciais para chegaram em outros mundos.
Mas você leitora, leitor, devem estar se perguntando o porquê daquela minha primeira frase:
você já fez um elogio hoje? É que toda essa situação de beligerância devido a resultado
eleitoral e condução de governos, somados a essa situação irritante e preocupante dessa
doença infecciosa que nos assola parece estar nos tornando menos humanos. Estamos
sofrendo da dificuldade de elogiar e agradecer, vivemos ariscos e irritadiços, não conversamos
mais ao acaso. Parece que obrigatoriamente precisamos falar de administração federal; de
tribunais superiores que nem sabíamos que existia e para que servia, mas hoje somos todos
especialistas em leis e processos; de combate a pandemia se tal ação está certa ou errada;
ou seja, resumidamente ou queremos plateia e aplausos ou queremos treta, discussão. Por
isso reforço: vamos elogiar, agradecer, brincar, tratar de quebrar as tenções e tornar nossa
sociedade melhor para se viver, enquanto ainda há tecido social a ser recuperado.
Adário Rafael Klettenberg